Há dois pontos de vista comuns atualmente, com os quais não concordo.
Um é de que o de que tudo é culpa “da sociedade”, “de todos nós”.
Isso é geralmente usado para simplificar, quase sempre de forma errada, problemas complexos, e oferecer soluções erroneamente simples. Por exemplo, a culpa de haverem crianças nas ruas é “de todos nós”.
Embora o grau de mobilização da sociedade para enfrentar uma determinada situação – menores vivendo nas ruas - seja um fator importante, em um grande número de casos a culpa é, por mais simples que possa parecer, de adultos que vivem da exploração destas crianças.
Qualquer um que preste atenção ao que se passa em nossas ruas logo verifica que isso é um fato.
O problema da violência urbana (que na verdade deveria ser chamado de problema da criminalidade urbana) é, da mesma forma, atribuído à sociedade. “Todos somos culpados”, é a frase favorita dos defensores desta corrente.
Permito-me discordar. O culpado pelo crime é o criminoso – aquele que, entre várias opções, escolhe a de usar violência armada para atingir seus objetivos, sejam eles quais forem. Outros cidadãos, submetidos às mesmas condições, escolhem outras alternativas, como o trabalho.
Dizer que “somos todos culpados” mascara a causa real do problema, e não ajuda na busca da solução. É um paternalismo arcaico que patrocina a complacência com o erro, e reforça a percepção dos responsáveis verdadeiros de que podem escapar de qualquer punição.
É esse ponto de vista que origina aberrações como nossa Lei de Execuções Penais, que permite que criminosos bárbaros tenham privilégios como “visita ao lar”, e saiam livres após poucos anos de prisão.