Em uma entrevista para a Veja, em 2006, o deputado Fernando Gabeira respondeu desta forma ao repórter que perguntava o que havia restado de suas convicções, depois da decepção com a esquerda no poder.
“A decisão de me apoiar em alguns princípios de atuação: a democracia... a defesa dos direitos humanos, da consciência ecológica e, finalmente, da justiça social. E caminhando por aí eu acho que posso fazer alguma coisa. Não é mais uma grande revolução, com o esplendor daqueles tempos...quando eu era jovem, queria morrer pela revolução. Agora, quero viver para transformar um pouco as coisas. Sem grandiosidade, sem melodrama. Com pequenas ações, apenas”.
Pequenas ações do dia-a-dia, passadas de pai para filho, espalhadas pela comunidade: não dirigir bêbado, não estacionar sobre a calçada, não jogar lixo no chão.
O brasileiro compra peças para o seu carro na robauto. Ele instala um ar-condicionado no escritório e não coloca um dreno, embora a água que pinga lá embaixo vá molhar a sua própria roupa amanhã. Ele dá propina para o guarda, na beira da estrada, enquanto seus próprios filhos observam do banco de trás.
Nenhuma grande revolução vai mudar este país. Nenhum movimento popular que ocupe as ruas com faixas e palavras de ordem contra a violência vai reduzir o crime ou tornar nossas autoridades mais eficientes. Nenhuma eleição vai mudar nossa situação até que os cidadãos decidem que ela precisa ser mudada. Essa mudança vai ser feita de baixo para cima, como disse o Gabeira, “com pequenas ações, apenas”.
Mas por alguma razão, o brasileiro prefere esperar por um salvador, um herói, que vai consertar tudo o que há de errado, colocar cada coisa em seu lugar, e trazer a justiça e a prosperidade ao país.
Onde está a nossa Rosa Parks ? Onde estão os homens e mulheres que, cada um a seu modo, silenciosamente, vão se recusar a ceder seus lugares, a pagar propina, a aceitar o crime em suas portas como coisa normal, e começar o movimento que mudará esse país ?
Não precisamos de heróis, não precisamos de revoluções. Não precisamos de partidos políticos cujas únicas ocupações são usufruir do poder (das piores formas possíveis) ou atacar o governo (quando não estão no poder). Não precisamos de ideologias exóticas, não precisamos de direita nem de esquerda, não precisamos de salvadores da pátria.
Precisamos tomar a rédea do nosso destino e começar a plantar as árvores que vão fazer sombra para os nossos filhos.