A garota de Ipanema demora para se maquiar - Lentidão na reforma do parque atrai moradores de rua
Felipe Sáles
Depois da notícia ser recebida com festa pelos moradores da região, a reforma do Parque Garota de Ipanema – que ocupa uma área de 2,58 hectares no coração do Arpoador – já começa a causar preocupação. A conclusão das obras, inicialmente prevista para janeiro, foi estendida para até o fim de fevereiro e, antes mesmo da esperada reinauguração, o local já voltou a ser habitado por moradores de rua.
De acordo com o Instituto E – que adotou o parque em 31 de julho último e iniciou as obras em 21 de outubro – a reforma atrasou principalmente por causa das chuvas. Segundo a assessoria do instituto – que iniciou a recuperação do parque após anos de abandono – os constantes temporais dos últimos dias atrapalharam, principalmente, a pavimentação do solo e a realização de soldas.
Além disso, o instituto elegeu como prioritária a parte baixa do parque, por onde transitam muitas pessoas em direção ao Arpoador. A parte de cima ainda está em fase de captação de recursos e, por ora, não há nenhuma empresa interessada em reformar o local.
Moradores preocupados
Embora não tenha em mãos o cronograma das obras, o diretor da Associação de Moradores de Ipanema, Roberto Motta, considera que a reforma não vem tendo a agilidade que deveria, mas fez questão de frisar a importância da adoção do parque.
– Nossa impressão é de que o ritmo não está sendo como gostaríamos – admitiu Motta. – Mas foi uma satisfação muito grande a adoção do parque, vemos que a empresa de fato está se dedicando. Além do mais, eles estão lidando com uma herança de anos de descaso.
Cinco moradores de rua – alguns aparentemente alcoolizados – ainda freqüentam o local, a despeito da presença constante de pedreiros e homens da Comlurb. Para Motta, os próprios moradores tornam-se responsáveis pela presença a partir do momento em que dão esmolas. A associação já vem estudando um projeto para retirar a população de rua do local.
– Muitas cidades do mundo conseguiram acabar com o problema ocupando o espaço público – lembrou Motta. – Vamos levar aulas de capoeira, jardinagem, enfim, qualquer tipo de evento que faça a população ocupar o espaço. Com isso, os próprios mendigos não se sentirão à vontade em ficar no local.
Uma das iniciativas estudadas, por exemplo, é fazer com que parte das aulas de surfe sejam ministradas no local. Em outubro, logo após a adoção do parque, cerca de 30 pessoas protestaram contra o desalojamento do depósito de pranchas do projeto Favela Surfe Clube. O surfista Jean Carlos, 33 anos – que dá aulas gratuitas a cerca de 40 crianças carentes – teme que o projeto acabe caso o depósito seja de fato fechado com a reabertura.
– Se formos desalojados, não vai ter jeito, o projeto vai acabar – disse. – Estou há 16 anos fazendo isso, e só pedimos em troca que a criança freqüente a escola.
O Instituto E informou que também apóia a conciliação do parque com a comunidade. A empresa e a Grendene destinaram R$ 700 mil à obra, provenientes da venda das sandálias Ipanema. O parque completou 30 anos em 2008 e integra a Área de Proteção Ambiental entre Copacabana e Ipanema. A adoção inclui ainda a manutenção do parque até 2010.
Com a reforma, o parque vai ganhar pistas de skate e novo paisagismo, além de mobiliários urbanos, recuperação de vigas, recuperação de muretas e reforma dos brinquedos e gradis.