Os 3 Mandamentos do Brasileiro

Os 3 mandamentos do cidadão brasileiro:

1. Não aceite jamais como normais o crime, a corrupção, a barbárie no trânsito e o descaso com a administração pública que existem no Brasil. Essas coisas são absurdas, inaceitáveis e precisam acabar com urgência.

2. Fique indignado. Manifesta sua indignação. Proteste. Escreva aos jornais, mande emails, converse com vizinhos e amigos. Explique aos seus filhos: isso é um absurdo, isso tem que mudar. Não se cale: quem cala, consente.

3. Aja. Qualquer ação conta e vale a pena, desde catar o lixo na praia até depositar o IPTU em juízo. As ações individuais não se somam: elas se multiplicam. Milhares de ações individuais valem mais que uma grande revolução liderada por meia dúzia. Faça o que você puder, faça qualquer coisa. Mas não fique de braços cruzados.

(Na foto abaixo uma das lixeiras colocadas pelos pais do Ipabebê no Posto 8 em Ipanema, para coletar o lixo que antes ficava na areia. O resultado é o trecho de praia mais limpo do Rio. E os frequentadores do resto da praia, porque também não fazem alguma coisa ?)


História de Natal

O Ancelmo Gois publicou no seu blog nosso post sobre o motorista anônimo que saiu do seu carro, na chuva, à noite, para provar que o Brasil existe.

Leia aqui.

Botafogo


Para uma aula de tudo o que pode dar errado em uma grande cidade, vá a Botafogo.

Engarrafamentos monstro, poluição do ar e sonora, crimes, sujeira, população de rua, favelas, zoneamento urbano caótico ou inexistente, Botafogo tem de tudo.

Andar pelas calçadas estreitas e sujas da Voluntários, levando fumaça de ônibus na cara, exige estoicismo. O verdadeiro teste do otimista é fazer um passeio pela São Clemente, da praia de Botafogo até a Dona Mariana, e continuar acreditando no Brasil.

Não se trata de culpar os administradores publicos. Em Botafogo todo mundo tem culpa. As barracas grotescas que fazem da rua Nelson Mandela um cruzamento de favela com feira livre estão lá porque existem compradores interessados nas capas de celular, CDs piratas e TVs de segunda mão. O caos na frente do Mundial da Voluntários é causado por motoristas que se enfileiram aguardando uma vaga e bloqueando garagens alheias.

Não que os erros acumulados em muitos anos de administração equivocada ou venal não saltem à vista. Há excesso de carros e onibus nas ruas estreiras, e todos trafegam em velocidade excessiva e com ruído ensurdecedor. Predios e estabelecimentos comerciais surgem em todos os lugares e sem obedecer a nenhum zoneamento coerente. Há pedintes, sujeira e abandono do patrimônio público em todo o bairro.

Como em todos os outros lugares da cidade, ali impera a apatia do carioca que pisa na sujeira, respira a fumaça, se esquiva dos ônibus e segue em frente, provavelmente à espera de um milagre político que nunca virá.

O Céu de Ipanema


Hoje, 18 de dezembro de 2007, às 19:50.

O que vai nos salvar

Parem as rotativas dos grandes jornais e revistas. Suspendam as transmissões de TV. Silêncio total nos shoppings, nas empresas, nos estádios.

Cancelem todas as sessões do Congresso.

Eu tenho um comunicado importante.

Na quinta feira passada, dia 13 de dezembro de 2007, eu estava preso no trânsito no início da auto-estrada Lagoa-Barra, a caminho de uma comemoração de fim de ano.

Chovia muito. Aquela é uma área perigosa, com assaltos frequentes. Eram oito horas da noite.

Eu me esforçava para tentar ver alguma coisa e avançar lentamente pelo mar de carros adentro, quando do meu lado direito, um pouco à frente, um motorista abre a porta do carro.

Me preparei para o pior, mas nada poderia ter me preparado para a cena que presenciei.

O jovem motorista do carro, um Golf de cor vinho, saiu do seu veículo sob chuva e cruzou o asfalto até a calçada.

Para depositar em uma lixeira da Comlurb uma lata de refrigerante.

Depois retornou ao carro, como se não tivesse feito nada demais, e continuou o seu caminho.

É isso que vai nos salvar.

Não é o presidente, não são os governadores, nem os parlamentares, nem os sindicalistas, nem os sociólogos.

Não são as revoluções, nem os golpes, nem as intentonas. Não são as associações de moradores. Não são os padres nem os policiais.

Nossa salvação está no homem comum, decente, anônimo.

A placa do Golf era LCW-6771.

A CPMF e a poltrona de R$ 2.600,00 do STJ

Muitas vezes a realidade é bem mais complexa do que imaginamos. Muitas vezes, da mesma forma, ela é mais simples.

A CPMF é um imposto. Impostos servem para que o Governo arrecade fundos para pagar suas despesas e realizar seus investimentos.

Como qualquer entidade ou organização, o Governo precisa administrar suas receitas e despesas. O faz muito mal. É notória a ineficiência de governos em administrar, em qualquer lugar do mundo. O Brasil não é exceção.

Qualquer cidadão que ande por nossas estradas, use nossos hospitais, cruze com um carro de polícia ou tenha filhos em uma escola pública sabe do que estou falando.

Enquanto isso funcionários públicos graduados e representantes eleitos desfrutam de benefícios injustificados, pagos com o dinheiro dos impostos.

Como, apenas para citar exemplo tirado do site da ONG Contas Abertas, a compra realizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), de três veículos de representação por R$ 435 mil.

Cada carro saiu por R$ 145 mil.

Porque os Juízes do STF precisam ter carros fornecidos pelo Estado ?

Vamos assumir que precisam - que os veículos são usados em missões de trabalho, e não no deslocamento de casa para o trabalho (para o qual deveriam, como qualquer cidadão brasileiro, usar seus próprios veículos ou o transporte público). Então, porque um carro de R$ 145 mil ?

Porque não um Corsa ? Porque não o carro mais barato possível ? É ou não é o dinheiro público que está em jogo, o dinheiro dos impostos ?

STJ também gastou mais de R$ 100 mil com a aquisição de 42 poltronas giratórias. Os móveis vão atender a seção de controle de patrimônio da entidade. Cada uma custou o equivalente a R$ 2,6 mil.

Por isso convido a todos os cidadãos brasileiros a se sentar em posição de lótus, fechar os olhos, ignorar a cantilena dos nossos políticos profissionais, e repetir este mantra:

É preciso reduzir os impostos.

É preciso reduzir os impostos.

É preciso reduzir os impostos.

Nota de rodapé: todos os senadores do Rio de Janeiro votaram a favor da manutenção da CPMF. São Marcelo Crivela, Francisco Dornelles e Paulo Duque.

A Síndrome do Enquanto

Uma das pragas do Brasil é a Síndrome do Enquanto.

Ela imobiliza os cidadãos de bem, paralisa todo movimento de mudança, desencoraja as melhores intenções.

Não adianta fazer nenhuma mudança nas leis para combater a violência, porque enquanto não for feita uma profunda reforma judiciária...

Não adiante prender criminosos porque enquanto as condições sociais no Brasil não melhorarem...

Não adianta lutar para que nossas cidades sejam mais civilizadas, menos sujas e barulhentas, porque enquanto a elite branca não mudar...

Não adianta lutar contra a proliferação das favelas porque enquanto não houver uma solução definitiva para o problema habitacional no país...

A Síndrome do Enquanto é a vitória de um grupo pequeno de manipuladores de informação sobre a maioria da população. É um embuste, uma farsa, uma enganação.

O progresso é, muitas vezes, feito de pequenos passos e mudanças, ao invés de reformas abrangentes e ambiciosas que demoram muito e fracassam com frequencia. A mudança em uma pequena variável tem, muitas vezes, consequencias dramáticas em um sistema complexo, como é a nossa sociedade.

Cada mudança conta. Cada pequeno ato pode se multiplicar, com impacto imprevisível.

Pisando no rabo do dragão

Senhores Parlamentares,

Queremos menos impostos.

Atenção, vou repetir: menos impostos.

Não interessa o nome. Não interessa a base de cálculo. Não interessa a alíquota.

Queremos pagar amanhã menos do que pagamos hoje.

Queremos redução nas despesas do Governo. Agora.

Não queremos sustentar um Estado perdulário e incompetente. Não concordamos com os Ômegas de R$ 145 mil da Câmara, ou os utilitários de R$ 353 mil do Senado, ou o Peugeot de R$ 42,9 mil do STF.

Nós usamos nossos próprios veículos, ou o transporte público. Porque nossos representantes não podem fazer o mesmo (como aliás ocorre em vários países) ?

Porque o Estado precisa gastar centenas de milhões em propaganda para nos lembrar que este é "um país de todos" ?

Nenhum governo ou poder público deveria gastar um centavo com propaganda. Isso é indecente.

Esse dinheiro deveria ser gasto com a polícia, hospitais, escolas.

Os senhores estão pisando no rabo do dragão.

Um dia ele acorda.

Pode demorar.

Mas acorda

Cadeia resolve muita coisa

Um dos chavões preferidos por nossos especialistas e generalistas é “cadeia não resolve nada”.

Estão enganados. Cadeia resolve muita coisa.

Em primeiro lugar, ela tira de circulação elementos que oferecem perigo para a sociedade. Por si só, isso já é muita coisa. A realidade é que alguns criminosos não podem ser “regenerados” ou “reintegrados” à sociedade. Eles vão sempre oferecer perigo. Por isso a maioria de nossas democracias ocidentais tem uma pena chamada de “life in prison” (que nossa veia latinodramática prefere chamar de prisão perpétua).

Em segundo lugar, ela tem um poderoso efeito inibidor sobre potenciais criminosos ou desrespeitadores da lei. Isso é tão evidente que não merece ser discutido. Mas vale a pena discutir, já que as nossas maiores autoridades judiciárias, legislativas e administrativas continuam ignorar essa questão, à despeito da realidade que salta todos os dias dos jornais.

Tomemos o trânsito. Essa seqüência irracional de barbáries que se sucedem diariamente nas ruas e estradas do Brasil é simples conseqüência da falta de punição adequada.

Qualquer um que mora ou passa algum tempo nos EUA recebe, logo de cara, uma advertência: aqui o transito é coisa séria. Infrações são punidas com multas pesadas, apreensão do veículo, e cadeia. Dirigir embriagado é infração grave. Uma brasileira, conhecida minha, foi conduzida à delegacia com as mãos algemadas nas costas por dirigir sem carteira. Independente de classe e condição social – como mostram as notícias freqüentes – os infratores são fichados e fotografados na polícia, como qualquer outro infrator, e recebem penas monetárias e de reclusão.

Sem desculpas. Sem jeitinho.

Como todos os brasileiros, fui irresponsável na direção logo que tirei carteira. Todo o jovem é. É nossa cultura. Bebemos e dirigimos, corremos demais, fazemos manobras arriscadas. Muitos amigos meus se envolveram em acidentes. Nenhum jamais foi punido com prisão, ou qualquer pena séria.

Se fosse, é evidente que a história teria se espalhado rapidamente, e todos teriam mudado de comportamento. Ninguém quer ser preso. Se esse fosse o preço da irresponsabilidade ao volante, a maioria teria se tornado responsável.

É evidente. Óbvio.

Então, porque não temos penas sérias para quem dirige embriagado ou sem carteira ?

Porque motoristas irresponsáveis, causadores de acidentes fatais, não são punidos de acordo com a gravidade dos seus crimes ?

Porque a sociedade brasileira é tão passiva diante de uma barbaridade que consome, todo o ano, as vidas de cinqüenta mil brasileiros ?

A Cartilha do Cordeiro

Foi divulgada de novo, desta vez no blog do Repórter de Crime, uma conhecida cartilha com regras de comportamento durante um assalto (vocês já devem ter lido, tem recomendações do tipo "não tente reagir", "faça o que o criminoso mandar", "não aparente nervosismo nem excesso de confiança", etc)

Eis o meu comentário, colocado no blog.

Prezado Jorge,

Precisamos refletir sobre essa cartilha, que volta e meia é divulgada. O resumo dela é: "seja um cordeiro, obedeça ao criminoso, faça tudo o que ele mandar".

Será que essa é mesmo a melhor orientação ?

Qual a reação dos bandidos quando vêem essa cartilha ? Não significa ela um salvo-conduto para assaltar com tranquilidade ?

Veja bem: até quem tem arma e sabe atirar é aconselhado a deixar a arma em casa e não fazer nada.

Não é melhor aconselhar logo a população a emigrar ?

Entendo e apóio a boa vontade em ajudar a população a se proteger, mas do meu ponto de vista o que precisamos saber é como combater o crime. O que pode o cidadão comum fazer para contra-atacar, para deixar de ser um cordeiro manso a caminho do abate ? Se facilitarmos a vida dos bandidos, como afinal é o que recomenda a maior parte dessa cartilha, o problema só vai piorar.

Está na hora da virada, do contra-ataque. Chega de baixar a cabeça e entregar o ouro e a vida.

Abraço,

Roberto

Quanto vale uma vida no Brasil



O sujeito se embriaga. Pega o volante de um carro. Causa um acidente. Mata alguém.

A pena máxima era de 3 anos. Após um grande esforço de trabalho legislativo de alta qualidade, a CCJ resolve aumentá-la para 4 anos.

Mas espera um momento: o condenado pode sair livre após cumprir 1/6 da pena, o que dá, no máximo, 8 meses. Ou então, como neste caso, ser condenado a serviços comunitários.

É isso aí. É quanto vale uma vida no Brasil.

O Céu do Arpoador




O céu do Arpoador, ontem, 6 de Dezembro de 2007.