Botafogo


Para uma aula de tudo o que pode dar errado em uma grande cidade, vá a Botafogo.

Engarrafamentos monstro, poluição do ar e sonora, crimes, sujeira, população de rua, favelas, zoneamento urbano caótico ou inexistente, Botafogo tem de tudo.

Andar pelas calçadas estreitas e sujas da Voluntários, levando fumaça de ônibus na cara, exige estoicismo. O verdadeiro teste do otimista é fazer um passeio pela São Clemente, da praia de Botafogo até a Dona Mariana, e continuar acreditando no Brasil.

Não se trata de culpar os administradores publicos. Em Botafogo todo mundo tem culpa. As barracas grotescas que fazem da rua Nelson Mandela um cruzamento de favela com feira livre estão lá porque existem compradores interessados nas capas de celular, CDs piratas e TVs de segunda mão. O caos na frente do Mundial da Voluntários é causado por motoristas que se enfileiram aguardando uma vaga e bloqueando garagens alheias.

Não que os erros acumulados em muitos anos de administração equivocada ou venal não saltem à vista. Há excesso de carros e onibus nas ruas estreiras, e todos trafegam em velocidade excessiva e com ruído ensurdecedor. Predios e estabelecimentos comerciais surgem em todos os lugares e sem obedecer a nenhum zoneamento coerente. Há pedintes, sujeira e abandono do patrimônio público em todo o bairro.

Como em todos os outros lugares da cidade, ali impera a apatia do carioca que pisa na sujeira, respira a fumaça, se esquiva dos ônibus e segue em frente, provavelmente à espera de um milagre político que nunca virá.