Meus amigos sabem que sou apaixonado pelo Rio de Janeiro.

Não nasci no Rio. Só vim morar aqui em 1973, aos 11 anos. No início, estranhei. Vinha de Salvador, que, na época, era quase uma cidade do interior. Aqui havia muito carro, as calçadas eram de pedras portuguesas, sem um pedacinho sequer descoberto (em Salvador havia mais barro e mato que calçadas). A água do mar era gelada. No primeiro mês um moleque passou correndo e tomou da minha mão um cruzeiro que eu levava para comprar uma revista em quadrinhos (lição aprendida: deste então o dinheiro só anda na mão bem fechada).

O choque da beleza do Rio veio aos poucos, em imagens que levei tempo até conseguir juntar na minha cabeça. A saída do Túnel do Joá por cima do canal do quebra-mar, em um dia de mar e céu azuis. A estrada das Canoas, cortando a floresta. O lugar -comum do Pão-de-Açucar, que é tudo menos lugar comum. A entrada da Baía de Guanabara, vista de um barco.

Esta não é a única cidade linda do mundo (tem Aspen, San Francisco, Paris).

Mas é a minha.

(vejam a foto lá em cima e entendam o que eu digo).

Gabeira, Finalmente

Em meados dos anos 80 eu li um livro que mudou a minha vida.

Eu estava na faculdade, tinha quase vinte anos, muitas idéias na cabeça e a confusão da primeira geração a chegar à maioridade no fim do período da ditadura.

As coisas que hoje eu sei, naquele tempo ainda não eram claras. E de repente eu lia a história daquela vida fantástica, tão diferente da minha, cheia de aventura, ousadia, experimentação. E coragem.

O livro era O Que É Isso, Companheiro ?, do Fernando Gabeira.

Depois li O Crepúsculo do Macho, veio a estória da tanga de crochê, e eu acompanhei à distância a história daquele cara verdadeiro, que dizia o que pensava, fazia o que acreditava ser correto, que antecipou tantas tendências e verdades.

Aí, anos depois, veio o dedo na cara do Severino. O dedo que o Brasil não teve coragem de colocar. Foi preciso que o Gabeira o fizesse. Veja aí embaixo.



Outro dia o conheci pessoalmente, fala mansa, jeito de quem vive em paz, pensando na humanidade. Um cara do bem, essencialmente. Além de fã virei amigo instantâneo.

Vou votar nele. Vou trabalhar para elegê-lo. Gabeira representa o que o Brasil tem de melhor; é alertar ao motorista do lado que a porta dele está aberta, é pegar o lixo que alguém jogou na praia, é assumir uma tarefa não porque dá dinheiro ou prestígio mas porque alguém tem que fazê-la. É ser corajoso e eficiente sem deixar de ser gentil.

Como ele disse na entrevista para a Veja, em 2006, respondendo ao repórter que perguntava o que havia restado de suas convicções, depois da decepção com a esquerda no poder.

“A decisão de me apoiar em alguns princípios de atuação: a democracia... a defesa dos direitos humanos, da consciência ecológica e, finalmente, da justiça social. E caminhando por aí eu acho que posso fazer alguma coisa. Não é mais uma grande revolução, com o esplendor daqueles tempos...quando eu era jovem, queria morrer pela revolução. Agora, quero viver para transformar um pouco as coisas. Sem grandiosidade, sem melodrama. Com pequenas ações, apenas”.

E para comemorar o fato de que ainda temos brasileiros como ele, clique aqui para baixar o deliciosamente zen funk do Gabeira.

Clique aqui para a versão ringtone para Iphone (depois use o iTunes pra jogar dentro do aparelho).

Política e Administração Pública não são a mesma coisa

Em um artigo da revista The Atlantic Magazine de setembro do ano passado (The Rove Presidency), Joshua Green conta a estória de Karl Rove, marketeiro e estrategista político das campanhas de Bush Junior, e depois eminência parda de sua administração.

Ao final, analisando as causas do total fracasso dos dois mandatos presidenciais de Bush, ele faz uma observação que merece ser lida por todos que se interessam por política, e em especial pelos candidatos a prefeito nas eleições do final deste ano:

"Porque tantas pessoas avaliaram Rove tão mal (achando que ele sabia governar) ? Uma razão é que ele era ótimo em ganhar eleições... Uma consequência do Culto ao Marketeiro é a crença de que ganhar uma eleição - especialmente uma eleição dificil, que achavam que você perderia - é prova de capacidade de governar. Mas são duas atividades completamente distintas".

Esse ano tem eleições municipais

O gráfico acima mostra as percentagens de vereadores da nossa Câmara Municipal que foram eleitos pelos setor formal e informal da sociedade carioca.

A notícia do jornal abaixo representa tanto uma explicação do gráfico quanto um lembrete aos cariocas da importância das eleições municipais que se realizarão em outubro deste ano.










Nas margens da Lagoa haviam favelas

Mais uma foto da antiga favela da Catacumba.

O Mito Número 1

Existia na Lagoa, nos idos dos anos 60, a favela da Catacumba. A foto mostra o Parque da Catacumba, nos dias de hoje.

A favela foi removida e toda a área restaurada e entregue de volta ao público. É, provavelmente, o parque público mais bem cuidado do Rio de Janeiro, e sede da Sub-Prefeitura da Zona Sul.

Muitos são os mitos criados em torno do assunto favelização, mas talvez o maior deles é que não há solução para as favelas.

O exemplo da favela da Catacumba nos dá a oportunidade de exercitar nossa imaginação e bom-senso. Em vez de nos perguntarmos "será possível acabar com a favela XYZ ?", poderíamos perguntar "como seria o Rio de Janeiro, hoje, com a favela da Catacumba na beira da pista da Lagoa ?"


Por onde se começa a melhorar o mundo ?

"A finalidade da vida não é ser feliz. É ser útil, ser honrado, ter compaixão, é ter feito diferença o fato de você ter vivido, e vivido bem".
Ralph Waldo Emerson



Por onde se começa a melhorar o mundo ?

Talvez pela esquina, onde há uma falha nas pedras da calçada que representa perigo para crianças e idosos. Todos passam e ninguém vê. Ou vêem e não fazem nada.

Ou pela política internacional, pressionando, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha a assinarem o tratado banindo as bombas cluster, ou as minas terrestres.

Por onde começar a melhorar o mundo que vou deixar para o meu filho ?

A cidade é grande, os problemas são maiores. Os jornais e a TV nos lembram todo dia que nossos esforços são inúteis, e que continua-se roubando, extraviando, sujando, atropelando. Há tantas leis, regras, regulamentos, tantos impostos. Todo o fim de mês as contas se empilham sobre a mesa. Meu amigo Jacques me diz: "já começo o mês devendo tantos mil reais". Saímos cedo e voltamos tarde, o sono atrasa, não há tempo para nada. A vida passa.

Muitos dos meus amigos foram embora do Brasil, eu fui e voltei. Ninguém consegue fugir da própria vida. No tempo em que fiquei lá fora vi que as coisas não precisam ser assim, vi que é possível outro caminho. Vi que esse caminho não depende de nenhuma revolução, de nenhum líder brilhante, nem de ministros, nem de planos, nem mesmo de eleições proporcionais ou majoritárias.

Esse caminho depende apenas da resposta que damos, como pessoas e cidadãos, à pergunta que ouvimos faz muito tempo.

Talvez seja necessário ficar em um quarto silencioso para escutar a resposta.

Como eu faço agora, enquanto olho meu filho dormindo.