Artigo do Globo, 3 de Outubro de 2009, página 7

Refexões após um assalto ao lado

Meu filho de cinco anos interrompe meu telefonema aos gritos: “Papai, quatro bandidos na rua”. Minha mulher completa a história: invadiram o prédio vizinho, são três ou quatro bandidos, fizeram reféns. Da janela vemos a rua bloqueada por carros de polícia, homens armados de fuzis, sirenes.

De repente a discussão sobre violência – sobre crime – que faz parte do meu dia-a-dia de empresário, diretor de associação de bairro, cidadão e pai, se materializa no prédio ao lado. Conhecemos os dois lados do debate: de um lado a turma do bandido bom é bandido morto; do outro a turma do bandido coitadinho, que só age assim por falta de oportunidades. Já deveríamos saber que os dois lados estão errados.

Respeito aos direitos humanos é parte fundamental do combate ao crime, e a lei vale para todos. E criminalidade tem várias origens diferentes; a pobreza é certamente um dos fatores envolvidos, mas jamais o único ou o principal – se fosse assim os países ricos não teriam crimes. Tratar um bandido violento como vítima não é só desrespeito grave às vitimas verdadeiras – é também ignorar a noção de responsabilidade individual que norteia nosso sistema social e jurídico. A decisão de portar uma arma e ferir gravemente ou matar outro ser humano deve ter resposta adequada da nossa sociedade. Não tem.

É preciso melhorar as condições sociais para que o crime não prospere, policiar nossas comunidades para evitar que criminosos tenham oportunidades de agir, investigar os crimes cometidos e prender seus autores, julgá-los e condená-los com rapidez e mantê-los presos por tempo suficiente para que eles deixem de ser ameaça para a sociedade.

Falhamos em quase todos esses aspectos. Apenas uma percentagem pequena de nossos criminosos é capturada. Processos criminais demoram anos, com os criminosos aguardando em liberdade. As sentenças penais são absurdamente curtas, com uma série de regalias que permitem que criminosos perigosos gerenciem seus negócios da cadeia ou saiam livres após cumprir uma fração de suas penas.

A única saída é o envolvimento de toda a sociedade. A grave crise de segurança que vivemos pode ser vencida, como foi vencida a inflação. Mas são necessárias idéias novas, ousadia, arrojo. Que acordem nossos partidos políticos, gestores públicos, juízes, empresários, pesquisadores, líderes sociais. É hora de discutir um novo modelo sem preconceitos e sem ideologias, um modelo no qual a vida humana seja sagrada e a responsabilidade individual a base de tudo. Um modelo para amanhã.

As Armas da Primavera - Artigo do New York Times

Porte de armas de fogo é um problema grave nos EUA (embora as taxas médias de homicído lá sejam 5 vezes menor que no Brasil).

O artigo abaixo, do New York Times, é um exemplo da honestidade e objetividade com que os americanos discutem seus problemas.

As Armas da Primavera
Timothy Egan
The New York Times, 10 de Abril de 2009

Tradução de Roberto Motta, rmotta2@terra.com.br
(original em inglês: http://egan.blogs.nytimes.com/2009/04/08/the-guns-of-spring/)

Bam, bam, bam. Três mortos em Pittsburgh, policiais, todos eles, assassinados por um homem com um AK-47 que achou que o Presidente Obama iria tomar suas armas.


Bam, bam, bam, bam. Quatros mortos em Oakland, também policiais, suas vidas terminadas por um bandido condenado com um fuzil de assalto.

Bam, bam, bam, bam, bam. Cincos mortos no Estado de Washington, crianças moídas com uma arma de fogo por seu próprio papai, um covarde espancador de mulheres.

Bam, bam, bam, bam, bam, bam, bam, bam, bam, bam, bam, bam, bam. Trezes mortos em Binghamton, N.Y., imigrantes e seus professores massacrados por um louco com uma Glock e uma Beretta. Ele enviou um bilhete confuso, em inglês quebrado, exceto pelo final: “E tenha um bom dia.”

A vida americana na primavera de 2009 está cheia de esperança, dificuldades, e então isto: o câncer no centro de nossa democracia.

Em um mês de violência horrível até por nossos próprios padrões, 57 pessoas perderam suas vidas em oito massacres com armas de fogo. Os matadouros incluem uma casa de saúde, um centro para novos imigrantes, um quarto de criança. Antes foram uma igreja, uma faculdade, uma creche.

Ouvimos as notícias desses rascunhos de carnificina entre as novidades do mercado financeiro e os resultados do basquetebol — e damos de ombros. Somos o sapo na panela cuja água esquenta devagar até ferver, aceitando isso tudo um pouco de cada vez até que não conseguimos mais sentir coisa alguma. Nós damos de ombros porque isso é o combinado, certo? Esse é o pacto que fizemos, o preço da emenda constitucional número dois, logo depois da liberdade de expressão.

Nasci no oeste dos EUA e como tal sou sensível ao argumento de que, quando políticos se movimentam para proibir armas de fogo depois de um massacre público, eles freqüentemente atingem apenas os que portam armas legais, em obediência à lei. Armas de fogo no Oeste dos EUA são uma herança, “uma parte sagrada de Montana e algo que nós sempre lutaremos para proteger,” como os Senadores Jon Tester e Max Baucus, ambos Democratas, escreveram em uma carta recente para o Departamento de Justiça.


Mas, como alguém que perdeu um sobrinho para violência das armas, só consigo aceitar estes argumentos até certo ponto. Eles não são abstrações, um lado contra o outro. Não posso evitar de ver os rostos, pais que não têm mais uma criança para segurar, corações partidos, vidas destruídas quando escuto bam, bam, bam.

Uma mãe e sua menininha, fuziladas junto com oito pessoas em Samson, Alabama, mês passado, foram enterradas uma nos braços da outra — a natureza morta daquela segunda emenda.

No dia seguinte a uma destas atrocidades, nada é mais aterrorizante do que ver um defensor das armas correndo diante das câmeras para proteger o direito de um lunático de carregar armas e massacrar.


Se fosse manteiga de amendoim ou pistache matando pessoas às dúzias toda semana, já teríamos tomado providências. Basta olhar os recalls recentes. Mas Glocks e AKs — não podem tocar nelas. Então nos afogamos em armas de fogo: 280 milhões delas.

É isso aí, dizem os donos de armas de fogo, e se nossa taxa de homicídio é três vezes maior que a do Reino Unido e do Canadá, cinco vezes maior que a da Alemanha, esse é o trato. O preço. Como consolação, eu acho, existe o fato de que a taxa de homicídio tem estado estável por algum tempo, abaixo do pico dos anos 1980. Ainda assim, quase 17 mil americanos são assassinados todo ano — mais ou menos 70 por cento por armas de fogo — e 594.276 perderam suas vidas entre 1976 e 2005.

Os últimos capítulos envolvem cartéis mexicanos, que conseguem seu arsenal comprando de lojistas americanos, e os massacres desta primavera por atiradores que parecem ter adquirido suas armas legalmente. Fuzis de assalto tiveram papel de destaque nos assassinatos de sete policiais.

O atirador de Pittsburgh comprou seu AK-47 de uma firma on-line, que realizou a venda através de um negociante de armas de fogo licenciado, conforme exigido. Ele tinha, aparentemente, permissão legal para possuir estas armas de fogo, apesar de ter sido expulso dos fuzileiros navais por agredir seu sargento, e de ter uma ordem judicial para manter distância de sua ex-namorada.

Tudo o que um cidadão pode fazer é pedir um pouco de bom senso em torno da Segunda Emenda. A proibição de venda de fuzis de guerra, que tornava ilegais 19 armas de estilo militar que nenhum caçador decente usaria, devia ser restabelecida. O presidente Bush e o Congresso a deixaram expirar em 2004, embora ela fosse uma dádiva de Deus para os policiais, e fosse apoiada pela maioria dos donos de arma de fogo.

Para os senadores que apóiam fuzis de guerra enquanto falam da “parte sagrada de ser de Montana,” vocês não querem este tipo de herança. Humilha vocês permitir acesso fácil a armas que matam inocentes, e causa um desserviço para a história.

Herança? As cidades do velho oeste como Dodge City tinham um rígido controle de armas de fogo, obrigando as pessoas a deixar suas armas na entrada da cidade.

E os negociantes de arma de fogo, eles deviam ser punidos por fazer negócios com traficantes ou bandidos condenados. Leis de extorsão federais neles. Tornemos tão difícil para um agressor de mulheres ou um criminoso conseguir um AK como é conseguir uma carteira de motorista.

O resto de nós só pode lamentar e encolher os ombros, marcando tenebrosos aniversários: Virgínia Tech, Columbine, e outro, e outro, e outro.

O problema do lixo em Ipanema

Parque Garota de Ipanema em um domingo de verão. Observem o funcionário do quiosque, no lado direito, urinando no canteiro.


Final de dia no Posto 8.


Papeleira do Parque Garota de Ipanema.


Lixo na Pedra do Arpoador.




As papeleiras são inadequadas ao volume do lixo.




Nos finais de semana de verão, antes do meio-dia as lixeiras já transbordam.





Joga o lixo ali mesmo, que depois o gari leva.







Será que alguém da Comlurb sabe que cocos são vendidos na praia ?






Longos trechos sem lixeira = lixo na areia



Porque não colocar na areia cestos de palha para recolher o lixo? São grandes, bonitos, biodegradáveis e artesanais.








Parque Garota de Ipanema - JB de hoje

A garota de Ipanema demora para se maquiar - Lentidão na reforma do parque atrai moradores de rua

Felipe Sáles

Depois da notícia ser recebida com festa pelos moradores da região, a reforma do Parque Garota de Ipanema – que ocupa uma área de 2,58 hectares no coração do Arpoador – já começa a causar preocupação. A conclusão das obras, inicialmente prevista para janeiro, foi estendida para até o fim de fevereiro e, antes mesmo da esperada reinauguração, o local já voltou a ser habitado por moradores de rua.

De acordo com o Instituto E – que adotou o parque em 31 de julho último e iniciou as obras em 21 de outubro – a reforma atrasou principalmente por causa das chuvas. Segundo a assessoria do instituto – que iniciou a recuperação do parque após anos de abandono – os constantes temporais dos últimos dias atrapalharam, principalmente, a pavimentação do solo e a realização de soldas.

Além disso, o instituto elegeu como prioritária a parte baixa do parque, por onde transitam muitas pessoas em direção ao Arpoador. A parte de cima ainda está em fase de captação de recursos e, por ora, não há nenhuma empresa interessada em reformar o local.

Moradores preocupados

Embora não tenha em mãos o cronograma das obras, o diretor da Associação de Moradores de Ipanema, Roberto Motta, considera que a reforma não vem tendo a agilidade que deveria, mas fez questão de frisar a importância da adoção do parque.

– Nossa impressão é de que o ritmo não está sendo como gostaríamos – admitiu Motta. – Mas foi uma satisfação muito grande a adoção do parque, vemos que a empresa de fato está se dedicando. Além do mais, eles estão lidando com uma herança de anos de descaso.

Cinco moradores de rua – alguns aparentemente alcoolizados – ainda freqüentam o local, a despeito da presença constante de pedreiros e homens da Comlurb. Para Motta, os próprios moradores tornam-se responsáveis pela presença a partir do momento em que dão esmolas. A associação já vem estudando um projeto para retirar a população de rua do local.

– Muitas cidades do mundo conseguiram acabar com o problema ocupando o espaço público – lembrou Motta. – Vamos levar aulas de capoeira, jardinagem, enfim, qualquer tipo de evento que faça a população ocupar o espaço. Com isso, os próprios mendigos não se sentirão à vontade em ficar no local.

Uma das iniciativas estudadas, por exemplo, é fazer com que parte das aulas de surfe sejam ministradas no local. Em outubro, logo após a adoção do parque, cerca de 30 pessoas protestaram contra o desalojamento do depósito de pranchas do projeto Favela Surfe Clube. O surfista Jean Carlos, 33 anos – que dá aulas gratuitas a cerca de 40 crianças carentes – teme que o projeto acabe caso o depósito seja de fato fechado com a reabertura.

– Se formos desalojados, não vai ter jeito, o projeto vai acabar – disse. – Estou há 16 anos fazendo isso, e só pedimos em troca que a criança freqüente a escola.

O Instituto E informou que também apóia a conciliação do parque com a comunidade. A empresa e a Grendene destinaram R$ 700 mil à obra, provenientes da venda das sandálias Ipanema. O parque completou 30 anos em 2008 e integra a Área de Proteção Ambiental entre Copacabana e Ipanema. A adoção inclui ainda a manutenção do parque até 2010.

Com a reforma, o parque vai ganhar pistas de skate e novo paisagismo, além de mobiliários urbanos, recuperação de vigas, recuperação de muretas e reforma dos brinquedos e gradis.