O que vai nos salvar

Parem as rotativas dos grandes jornais e revistas. Suspendam as transmissões de TV. Silêncio total nos shoppings, nas empresas, nos estádios.

Cancelem todas as sessões do Congresso.

Eu tenho um comunicado importante.

Na quinta feira passada, dia 13 de dezembro de 2007, eu estava preso no trânsito no início da auto-estrada Lagoa-Barra, a caminho de uma comemoração de fim de ano.

Chovia muito. Aquela é uma área perigosa, com assaltos frequentes. Eram oito horas da noite.

Eu me esforçava para tentar ver alguma coisa e avançar lentamente pelo mar de carros adentro, quando do meu lado direito, um pouco à frente, um motorista abre a porta do carro.

Me preparei para o pior, mas nada poderia ter me preparado para a cena que presenciei.

O jovem motorista do carro, um Golf de cor vinho, saiu do seu veículo sob chuva e cruzou o asfalto até a calçada.

Para depositar em uma lixeira da Comlurb uma lata de refrigerante.

Depois retornou ao carro, como se não tivesse feito nada demais, e continuou o seu caminho.

É isso que vai nos salvar.

Não é o presidente, não são os governadores, nem os parlamentares, nem os sindicalistas, nem os sociólogos.

Não são as revoluções, nem os golpes, nem as intentonas. Não são as associações de moradores. Não são os padres nem os policiais.

Nossa salvação está no homem comum, decente, anônimo.

A placa do Golf era LCW-6771.