Comemorações que envolvem multidões geram sempre confusão e sujeira, em qualquer lugar do mundo. Eu sei disso, e não espero que a praia de Ipanema, nestes dias que antecedem o Reveillon, seja nenhuma reserva ecológica.
Mas há um limite.
Cheguei com meu filho às 17:00 do dia 30 ao ponto em frente ao Ipabebê, no Posto 8, e abri caminho até a beira do mar. Ali encontramos alguma sujeira: não muita, ainda não a sujeira pós-Reveillon, mas o suficiente para incomodar.Como não gostamos de sentar na areia com sujeira em volta, arrumamos dois sacos plásticos grandes e, com a ajuda do meu filho, recolhi os cocos, garrafas plásticas, canudos, embalagens de biscoito, guimbas de cigarro e até uma corrente de metal com crucifixo. Alguns banhistas também juntaram o lixo ao seu redor e colocaram nos sacos.
Logo uma área de praia com uns 20 metros de raio ficou limpa. Levei meu filho para a água.Ao voltar para a areia nos deparamos, incrédulos, com a seguinte cena: 3 senhoras, com várias sacolas nas mãos, montavam suas oferendas no meio da praia cheia.
As oferendas incluíam 2 garrafas de vinho e 2 frascos de perfume. De vidro. Na areia. Em frente ao Ipabebê, local frequentado por crianças.
Comemorações que envolvem multidões geram sempre confusão e sujeira, em qualquer lugar. Eu sabia disso, e não esperava que a praia de Ipanema, nestes dias que antecedem o Reveillon, fosse nenhuma reserva ecológica. Mas tudo tem limite.
Suspirei fundo e fui até o grupo.
"Vocês não vão deixar estas garrafas aqui na areia, vão ?", perguntei às senhoras, que se espantavam de alguém se incomodar com uma coisa tão normal.
"Depois, se alguém quiser tirar, pode", foi a resposta da senhora de branco.
"Minha senhora, a senhora está vendo aquele parquinho ?" perguntei, apontando os brinquedos do Ipabebê perto da calçada. "Essa área é frequentada por crianças, a senhora não pode deixar essas garrafas de vidro na areia".
Não quero mudar o mundo. Não quero dar exemplo, nem ensinar lições a ninguém, nem começar um movimento mundial cívico revolucionário.
Só quero a areia da praia limpa. Só quero que meu filho possa brincar na areia sem medo de pisar em um caco de vidro.
Por isso insisti, argumentei, passei os olhos pela areia à procura de um Guarda Municipal ou PM (não havia nenhum), até que peguei meu filho e voltei para a água.
De lá vi as senhoras recolher as garrafas e os frascos, colocá-los nas sacolas e levá-las embora.
Sim, eu sei, foi apenas uma gota no oceano.
Mas foi a minha gota.