O brasileiro é maniqueísta.
O maniqueísmo é uma visão dualista radical, segundo a qual o mundo está dividido em duas forças: o Bem e o Mal, e se origina em uma religião criada pelo profeta persa Mani.
Para o brasileiro, ou o político é um santo (Getúlio Vargas, Juscelino, Lula) e nunca pode fazer nada de errado, ou é um corrupto total, um vendilhão do povo, e nada do que ele diz ou faz presta.
A realidade, claro, é que, como qualquer pessoa normal, os políticos às vezes acertam, às vezes erram. Mas o fundamental é que, em um regime democrático como o nosso, os políticos são eleitos como representantes de grupos e interesses da sociedade.
E esses intereses, legítimos ou não, são os que eles defendem.
Os grupos mais organizados são os que têm melhor representação. Os que não se interessam por política ficam esquecidos. É o caso da classe média. Todo mundo sabe que a classe média brasileira tem nojo de política.
Por isso a maioria dos políticos não defende os interesses da classe média. Por isso a maioria dos nossos representantes estaduais e municipais prefere defender as cooperativas de van, as empresas de ônibus, as milícias. Porque foram eleitos por elas.
Porque a classe média acordou no dia da eleição sem saber em quem ia votar. E por isso não conseguiu eleger nenhum representante. Voltou, então, para casa derrotada, e foi se recolher ao quarto dos fundos, e rezar diante do oratório dedicado aos santos políticos do passado.