Porque, no Brasil, as melhores mentes estão na iniciativa privada ?
Essa foi a pergunta que fiz a um amigo de escola, hoje empresário bem-sucedido do mercado financeiro.
Em que momento do passado minha geração fez a opção de considerar o trabalho no setor público como segunda - segunda não, última - opção ?
Nos Estados Unidos é comum homens de negócio bem sucedidos, após acumularem fortunas, dedicarem suas vidas ao serviço da sociedade. No Brasil, na maioria dos casos, nossos destinos são decididos por administradores públicos despreparados.
Porquê ?
Alguns anos atrás fui a uma reunião na casa de um amigo, que se candidatava pela primeira vez a um cargo eletivo. Fui a contragosto, evidente. Brasileiro não gosta de política, política é coisa suja, coisa de bandidos.
Fiquei lá calado, observando as discussões. No meio do grupo se destacava um rapaz mal vestido, de cabeça grande, barba por fazer e despenteado. Falava muita bobagem, mas falava. Dizia besteiras, mas dizia com energia e ênfase, e acabava dominando a discussão. Eu pensei em intervir, em explicar como ele estava errado, mas deu preguiça. Você sabe, política é coisa de desocupados, de gente que não consegue emprego.
O rapaz do cabeção falava sem parar. Do seu diretório estudantil. De como conseguir votos. Do que as classes mais pobres pensam.
Aí então eu me dei conta: daqui a alguns anos o cabeção vai estar em algum cargo público, apenas pela insistência, apenas por estar em reuniões como essas.
O cabeção vai mandar na minha cidade. O cabeção vai fazer leis que vão mexer com a minha vida.
Enquanto nós, os cérebros brilhantes, educados e cultos, continuamos com nossas ocupações nobres e lucrativas, os cabeções do mundo decidem nossos impostos, nossa segurança, nossa saúde.
Pensem nisso enquanto as eleições municipais se aproximam.
Pensem nos cabeções.
Ainda dá tempo.
Quem não gosta de política está condenado a ser governado por quem gosta.
Você não gosta de política ? Que pena. O cabeção gosta.