Malandro Demais Para Pouco Otário

A emoção que define a vida do brasileiro é o mêdo. Do assalto, do flanelinha, do golpe do sequestro por telefone, dos truques do Governo (seja de que partido for), do descaso dos prestadores de serviço monopolistas (tente cancelar uma linha de celular), dos exames não cobertos pelos planos, da malha fina, dos carros que não respeitam o sinal. Mêdo do desemprego, do futuro dos seus filhos, da hora da aposentadoria. Há sempre um motivo forte e próximo. 

É o bueiro que explode e pega fogo. É a marquise que cai em cima dos passantes, é o prédio que cai em cima das pessoas. É o motorista do ônibus que acelera quando estamos embarcando, é o motorista de táxi que dá o golpe do "você me deu uma nota de cinco reais" quando acabamos de pagar com uma nota de cinquenta.

Acordo no domingo e me deparo com uma cena de tregédia em frente de casa. Um motorista bêbado bate em alta velocidade atrás do caminhão de mudanças, decepa um braço e uma perna de um dos ajudantes que acaba morrendo, manda o outro para o hospital em estado grave. Estava bêbado, claro. Tão banal que nem deu notícia.

São os dois malandros, na porta da minha casa: um se abaixa e suja de graxa o sapato de idosos, o outro, mais à frente, aponta o sapato sujo, limpa e cobra 100 reais.

Basta morar algum tempo fora do país para perceber a carga pesada que aqui carregamos sem perceber. Estamos sempre de sobreaviso, sobressaltados. 

É malandro demais para pouco otário.