A Arte da Guerra Política e os Garotos do Leblon


As pessoas votam em símbolos. É com símbolos que se faz uma campanha eleitoral. O candidato é o símbolo máximo, já explicou David Horowitz em A Arte da Guerra Política. Mas quem, no Brasil, tem tempo para ler Horowitz ?

Ninguém votou no plano de governo do Lula, nem em sua política econômica ou no seu modelo para regulamentação do pré-sal. Os eleitores votaram no símbolo Lula.

Vamos cair na real: 99.99% dos eleitores brasileiros não sabem o que significa “tripé macroeconômico” ou “pré-sal”.

Ninguém entende de verdade o buraco da Previdência, ou mesmo como funciona um sistema de aposentadoria. O sujeito que tem família para sustentar, e boletos para o final do mês, está se lixando para a decisão do STF sobre prender ou não depois de condenação em segunda instância. Ele está se lixando pro “distritão”.

Drew Westen já explicou, em The Political Brain, que preferências políticas não são racionais, mas emocionais. Daniel Kahneman explicou a mesma coisa, com evidências exaustivas, em Thinking Fast and Slow. Mas quem tem tempo de ler hoje em dia ?

Westen e Kahneman provaram que existe um fio que liga o coração ao voto. Por esse fio circula emoção, e não raciocínio.

As emoções e o desespero, no Brasil, são capturados por populistas, por corruptos e pelos políticos de extrema-esquerda com promessas de, respectivamente, “benefícios”, dinheiro ou o fim da “desigualdade”.

Apesar de toda a literatura e conhecimento disponível, a maioria dos grupos políticos de não-esquerda (1) do Brasil insiste em convidar o eleitor para uma discussão racional sobre nossos problemas – embora já tenha sido fartamente comprovado que, na guerra política, não cabe discussão: o tempo é pouco, a mensagem tem que ser curta e o símbolo apresentado precisa causar impacto (2).

Por isso hoje, em dezembro de 2017, o candidato mais forte na corrida presidencial é Jair Bolsonaro. O capitão Jair Bolsonaro. O Bolsomito. O parlamentar que não esteve, nunca, envolvido em escândalos. O político que consegue ser o símbolo de um Brasil que não se curva, nem diante da esquerda, nem diante dos corruptos.

Um símbolo.

Lula também foi um símbolo. Nada consegue derrubar um símbolo forte – a não ser outro símbolo mais forte ainda.

Quais são os símbolos que os partidos de não-esquerda apresentam a seus eleitores?

Qual é a mensagem direta, emocional e simples, que esses partidos têm para o eleitor brasileiro, em contraposição à mensagem da esquerda de “distribuição das riquezas” e “justiça social”?

Enquanto a esquerda promete “dar de comer a quem tem fome”(3) o outro lado fala de “obter serviços melhores para os impostos que pagamos”. Mas os pobres acham que não pagam imposto; eles desconhecem que metade de tudo o que ganham, vendendo biscoito e refrigerante no engarrafamento da Avenida Brasil, vai para o Estado. Eles também não entendem que “serviços” são esses que o Estado presta. Até o vocabulário escolhido é ruim.

Aquele slogan genial, bolado pelos garotos do Leblon, não emociona o cidadão comum – aquele que acorda às 4:30 da manhã, para pegar o ônibus na rua ainda escura, com medo do assalto e pensando nos boletos.

Enquanto os garotos da nova política brincam de DCE de luxo, selecionando a si mesmos para grandes e futuras missões enquanto bebericam um Prosecco na lancha em Angra, a esquerda se reorganiza com os corruptos para ficar outros 15 anos no poder - e finalmente jogar o país no abismo do socialismo real.

Deixa eu dizer o que os garotos do Leblon não querem escutar: o problema do Brasil não é de “gestão”, e sim de uma luta entre o bem e o mal.

É uma luta entre os que trabalham por um futuro melhor para si e suas famílias – e, por extensão, para toda a sociedade – e aqueles presos a um modelo mental que mistura paternalismo e tirania, e que se revelou, em todo o lugar onde foi implantado, um fracasso social, político e econômico. Estou falando do modelo conhecido como socialismo.

É um sistema que gera miséria, crime e destruição. Porque há tão poucos com coragem de dizer isso ?

Escuto a toda hora que “o problema do Brasil não se resume ao debate esquerda x direita”. Claro que não (4). O problema central, hoje, no Brasil é o embate entre a esquerda e qualquer outra alternativa social, política ou econômica.

Nenhuma outra corrente política tem vez.

A esquerda simplesmente alcançou a hegemonia na cultura, na educação, nos meios de comunicação e no aparelhamento do Estado, a tal ponto que o simples ato de chamar atenção para essa dominação passa a ser pecado mortal.

Duvida ? Tente ser professor, advogado, cineasta, ator ou escritor “de direita”, e conseguir emprego – ou pelo menos uma chance de falar.

A dominação ideológica da esquerda sobre as escolas de Direito ao longo dos anos se estendeu ao Ministério Público, à Defensoria Pública, aos Tribunais, às entidades de classe e, finalmente, à forma com a qual o Legislativo produz legislação penal. Essa dominação da esquerda sobre a aplicação da justiça está na raiz do crescimento sem freios do crime, que nos tornou campeões mundiais de homicídios (60.000 mortos por ano, UM MILHÃO ao longo de 15 anos) e fez do Brasil uma nação de pessoas com medo.

A esquerda que reclama da superlotação dos presídios é a mesma que entregou à presidente Dilma um “plano de ação” cujo primeiro item era a “suspensão de qualquer investimento na construção de presídios” (5). É a mesma do Defensor Público Federal Anginaldo de Oliveira, que disse que Fernandinho Beira Mar e Nem da Rocinha estão em “situação de fragilidade” e precisam de “um abraço amigo” (6), e por isso deveriam retornar ao Rio. É dessa esquerda que vieram as “audiências de custódia”, a “progressão de regime” e o ECA, três aberrações jurídicas que deixam assassinos sádicos soltos em nossas ruas.

E, apesar de tudo isso, um ativista de direita, em uma manifestação de apoio à polícia carioca, me pediu para não falar de ”esquerda versus direita”, porque isso gerava “desagregação”. Eu deveria focar “naquilo que nos une”.

Aquilo que nos une à esquerda ?

Nada, absolutamente nada, me une à esquerda brasileira, a Marcelo Freixo, Maria do Rosário, Dilma, Lula, Cabral, Genoíno, Dirceu e a escumalha toda.

A esquerda brasileira e seu pensamento estatizante, paternalista, corrupto e violento está na raiz dos males do Brasil de hoje. Eles praticam ao pé da letra o que disse Saul Alinsky: “A ação mais antiética de todas é não usar todos os meios disponíveis para alcançar o poder” (7)

É fundamental entender como eles operam, como se infiltram em “movimentos sociais” com as bandeiras mais diversas - da “promoção da diversidade” até a proteção do meio ambiente. Tudo é apenas um disfarce para a luta pelo poder mais cru. “The issue is never the issue”, disse Saul Alinsky: “The issue is always power”. A questão nunca é a questão; a questão é sempre o poder.

Para enfrentar essa turma é preciso tirar as luvas.

É preciso perder o nojinho da política real, que ainda caracteriza vários desses movimentos de “renovação”, compostos, em sua maioria, de gente jovem com ideias velhas.

Falta coragem, falta imaginação, falta humildade e um mínimo de educação política aos que deveriam ser a nossa linha de frente no combate à tirania e à corrupção. Eles estão dividindo sua mesa com seus próprios inimigos, por uma mistura de ignorância, ingenuidade e vergonha de sua própria prosperidade.

Deixa eu dizer uma verdade dura: os muitos anos dirigindo uma multinacional de siderurgia ou um banco não preparam ninguém para a atividade política. A única preparação para a política é ela mesma.

Não se faz política desprezando a política. Evgeny Morozov em To Save Everything, Click já expôs a ingenuidade por trás das tentativas de usar tecnologia como substituta para o processo político real, aquele que envolve engajamento, contato individual com pessoas, compromissos e negociações.

Nenhum aplicativo vai substituir o brilho nos seus olhos ao falar de seus sonhos, enquanto segura as mãos de um desconhecido. Uma proposta política verdadeira é feita de um milhão de conversas assim.

Nenhuma tecnologia vai substituir o mergulho na vida real. Um candidato presidencial americano já foi derrubado em um debate quando lhe perguntaram o preço de um litro de leite.

Quantos de nossos candidatos sabem o preço de um tablete de manteiga ?

A manteiga aqui é apenas um símbolo.

As pessoas votam em símbolos, e é de símbolos que se faz uma campanha – e, depois, uma nação.


(1) A. C. Grayling em “Ideas That Matter”, já explicou que não existe “direita”, que na verdade é um agrupamento de correntes políticas com ideias diferentes entre si. A única coisa que essas correntes têm em comum é o horror à esquerda e suas ideias de coletivização. Melhor chamar esse grupo de “não-esquerda”.

(2) Dois grupos que entenderam isso são o MBL, com seus memes corrosivos e vídeos de zoação séria (com os quais um dos MBListas, Artur do Val, o “Mamãe Falei”, já passou de um milhão de inscritos em seu canal no YouTube), e o LIVRES, cuja Fundação Índigo produz gráficos de impacto, que comunicam um problema nacional grave em uma única imagem colorida.

(3) Embora no Brasil a obesidade já seja um problema maior que a desnutrição, e a esquerda esteja apenas pensando no caviar e na champanhe que vai comprar com o dinheiro público (sempre é assim).

(4) Até porque não existe debate algum. Você já viu a Globo News entrevistando especialistas “de direita”? Você já viu algum painel na TV que inclua debatedores de esquerda E direita ?

(5) Veja: carcerária.org.br

(6) Veja: https://oglobo.globo.com/rio/por-que-preso-nao-pode-reclamar-questiona-defensor-publico-21891992

(7) Saul Alinsky, Rules For Radicals, pg. 26