Fim de Tarde

(do diário de um pai de Ipanema)




Sexta feira consegui sair cedo de um cliente e corri para te pegar na escola. Não consegui chegar a tempo; a Lúcia foi te buscar e ficou em casa me esperando. Cheguei às cinco e meia, troquei de roupa e fomos à praia.

Tirei seu uniforme e coloquei a sua sunga vermelha no trocador do Ipabêbê. Você brincou no parquinho, bebemos água de coco sentados no banco de cimento e fomos caminhar pelo calçadão. Terminamos na beira do mar, onde as ondas quebravam com força. A tarde caía e os restos de luz se refletiam na areia molhada. A força das ondas criou uma grande rampa lisa por onde a água subia. Sentamos e brincamos na areia; primeiro fazendo buracos, depois você sentado e eu te puxando pelas pernas para escorregar até perto da água.

As pessoas começaram a fechar suas cadeiras e guarda-sóis e ir embora, a praia ia ficando vazia; a luz diminuía, rapazes e senhoras passavam correndo pela areia. Os garis do turno da noite chegaram caminhando devagar, recolhendo sem pressa o lixo dos banhistas.

Você corria pela areia, eu corria atrás. A noite caía lenta como em um filme, e a cidade aumentava seu ritmo; o barulho dos carros parados no trânsito, a sirene de uma ambulância, pessoas caminhado apressadas na calçada.

Agora já está quase escuro, nós dois ainda de sunga, a luz dos postes formando um círculo à nossa volta, e além dele a escuridão avançando sobre o mar e a areia. Você correndo atrás de um pombo, eu correndo atrás. Hora de te pegar no colo para dar mais um beijo, fazer um carinho e tomar o caminho de casa, pedindo a Deus que mantenha o mundo assim por mais um dia, por mais algumas horas.

3 de Abril de 2005