Um Dia de Julho - 2

No dia seguinte retorno à loja de bicicletas. O mecânico faz os últimos ajustes, acerta a altura do assento, sugere algumas mudanças. Dou umas voltas na calçada em frente: já faz um ano que não ando de bicicleta, minhas pedaladas são inseguras e meu equilíbrio precário. Mas o sujeito fez milagre e aquela coisa suja e enferrujada renasceu. É sábado, seis horas da tarde, tenho uma bicicleta nova nas mãos, e tempo livre.

Atravesso a rua, pego a ciclovia de Copacabana e sigo rumo ao Leme.

Sábado e domingo são os piores dias para pedalar. Há excesso de gente e de bicicletas, pessoas caminhando devagar na ciclovia, ciclistas andando muito depressa em grupos de três ou quatro lado a lado, fechando o caminho. Senhoras idosas surgem repentinamente, passageiros desembarcam de ônibus direto na pista, adultos e crianças atravessam sem olhar. Muitos acidentes acontecem.

Já estou no Posto 5 quando começa a anoitecer, e me arrependo de ter vindo. Minha miopia, apenas um incômodo de dia, vira um problema sério à noite. Minha visão está embaçada; só vejo vultos indistintos; reduzo a velocidade ao mínimo possível. Subo na calçada devagar e dou meia volta. No sentido contrário minha visão piora; os faróis dos carros me ofuscam. Pelo menos a ciclovia se esvazia um pouco.