A Guerra do Queijo de Coalho

Eu sou o general e único soldado de uma guerra particular, que eu mesmo declarei e que acontece todo final de semana. O campo de batalha é o trecho de praia em frente à rua Joaquim Nabuco, em Ipanema, onde vamos desde que meu filho nasceu. De um lado estou eu e meu exército de um homem só. Do outro, os vendedores de queijo coalho.

Acho absurdo que alguém carregue, no meio da multidão na praia, um forno de metal cheio de carvão em brasa. Basta olhar o espaço apertado para concluir que, em algum momento, alguém vai esbarrar no metal e se queimar. Enquanto o vendedor atende aos seus clientes, o forno do inferno fica espetado na areia. Em torno dele circulam inocentes banhistas, que jamais poderiam imaginar que, ali ao lado, está um pedaço de metal incandescente.

Eu insisto em expulsar os vendedores de queijo coalho do nosso território. “Aqui está cheio de crianças, minha senhora”, eu digo. “Olhe ao seu redor meu amigo, o senhor não pode colocar essa coisa cheia de brasas aqui”. São dez, quinze batalhas por dia. Eles me dão olhares hostis, fazem ameaças veladas.

No início de Janeiro de 2007, no nosso pedaço de areia, uma criança queimou seu braço em um desses fornos. O vendedor de queijo, solícito, recomendou mergulhar o braço da criança na água do mar.

Minha luta é inglória. Luto sozinho. A maioria dos outros pais é consumidora do queijo do inferno, enquanto suas crianças correm ao lado das latas cheias de brasas. No final do dia eu passo recolhendo os espetos de madeira largados na areia, alguns enterrados com a ponta afiada para cima, como armadilhas de uma guerrilha na selva.

Armadilhas contra nossas crianças.

Ninguém percebe. Ninguém liga.