Ele dá como exemplo o renascimento de Nova Iorque, que começou com a decisão da Prefeitura de combater os pequenos delitos: pular a bilheteria do Metrô, pichar propriedade pública, urinar na rua, jogar água com sabão no pára-brisa do carro sem o consentimento do motorista e depois intimidá-lo a dar gorgeta – todas situações familiares nas grandes cidades brasileiras. Foi a tolerância zero: nenhum delito, por menor que seja, seria tolerado.
Essa política foi adotada com base na teoria das Janelas Quebradas. Imagine uma casa em cuja janela alguém jogou uma pedra. Se esta janela não for consertada, logo alguém vai jogar pedras nas outras janelas. Surgirão pichações nas paredes. Lixo vai ser jogado no jardim.
Nossas cidades são o equivalente à essa casa. Nelas quase tudo é desordem e abandono. Os carros estacionam onde querem, jogando os pedestres para as ruas. As calçadas são desniveladas e esburacadas, e o que sobra delas é ocupado por camelôs.
Há lixo sempre, em todo o lugar – o brasileiro acaba seu sorvete, seu sanduíche, seu refrigerante, e o ato de atirar a embalagem ou a lata no chão é automático. É impossível andar pelo centro do Rio de Janeiro sem ter a roupa molhada pela água que pinga dos ar-condicionados. O esgoto se acumula em alguns lugares.
Nossos semáforos e sinais de trânsito são decorativos. Apenas uma minoria paga as multas de trânsito ou o IPVA (no Rio e São Paulo mais de 30% dos veículos não paga o imposto nem tem licenciamento em dia).
Há muito adotamos a política da Tolerância Total: vale tudo, tudo pode, nada é seriamente reprimido, nada merece a repreensão da sociedade, nada mobiliza os homens de bem para uma reação; nem que seja algo obviamente criminoso, nem que seja algo que, no fim, prejudica a todos, nem que seja algo que ocorre diariamente sob os nossos olhos.
O outro lado da moeda é a teoria do Canteiro Bem Cuidado. Os moradores de um prédio na minha rua resolveram cuidar do canteiro de plantas na calçada em frente. Logo, quem passava se espantava com o verde das plantas, com as flores, de todas as cores. O prédio do lado fez o mesmo, e foi mais longe: reformou a calçada, que agora está lisa e nivelada, com as pedras portuguesas alinhadas e limpas. A febre está se espalhando pela rua; alguns pintam as fachadas, outros mexem nos canteiros e nas calçadas. Moradores já se perguntam o que fazer para manter a rua limpa, para cuidar da praça e dos seus jardins.
Nosso país tem jeito, e é muito mais simples do que possa parecer. É preciso inaugurar um novo tempo, um tempo de gentileza, em que nossos aglomerados urbanos vão se tornar verdadeiras comunidades.
Um canteiro bem cuidado pode fazer toda a diferença.